Friday, November 17, 2006

Pantomima

Começa uma argumentação... Braços ao ar realizam movimentos que, mesmo ilógicos, são belos. Após um tempo, começam a tomar forma. Pequenas variações criam idéias. Sentimentos são transmitidos por cada onda de movimento que seu corpo emana e a platéia é atingida por todos eles de forma individual.

Ultraje! – gritam entre vaias e aplausos. O público está confuso. Suas palavras são muito fortes e sua voz é excessivamente profunda para a compreensão à primeira vista. Ele insiste! Seu torso gira em um eixo imaginário reafirmando que nunca irá desistir. Uma repetição de termos que transforma uma sentença em cacofonias e ruídos em comunicação pura. Sua mensagem é clara, mas o público se recusa a ver.

Agora suas pernas deixam o chão. O mundo roda à sua volta. Novas idéias são propostas, realidades alternativas apresentadas através de perspectivas inéditas. Uma sucessão de passos demonstra ações que, sem precedente, atingem a todos de modo uniforme. Palmas acompanham o rápido bater de pé no chão... a platéia se sente no dever de acompanhá-lo e desencadear o desastre. Movimentos esquizofrênicos demonstram uma interferência! O artista se cala...

Seus olhos passam de forma rápida por cada espectador. É o suficiente para causar desmaios, convulsões e dores. Sua expressão revela suas intenções. Dizer mais sem nada dizer.

Todos os movimentos voltam junto às expressões. É criada uma nova realidade. Não existe tempo, não existe medo, muito menos dúvidas. Viver torna-se uma arte. Os passos perdidos tornam-se uma dança. Novas perspectivas trazem novos horizontes.

E o artista continua seu monólogo... sem pronunciar uma palavra.
(17/11/2006)

Friday, November 10, 2006

Em meu quarto...

Era uma festa como todas as outras em que eu ia. Todos à minha volta eram branco e preto. Aqueles que se destacavam, eram os que sabiam explorar melhor os tons de cinza. Sentia angústia de me encontrar naquele ambiente tão hostil a uma mente que gritava por criatividade e inspiração.
Tudo o que eu precisava para poder levantar vôo era um contato, físico ou mental, que expressasse algo além daquela frivolidade que ecoava por todos os cantos daquele fim-em-si-mesmo. Questionava se era a minha vida que havia se tornado daltônica para o mundo, ignorando sentimentos e sensações que o mundo me trazia. Naquele momento, eu sentia como se o mundo estivesse me consumindo e tomando conta de minha vida. Era a alienação e a frieza tomando conta do meu espírito por muito abatido.

Para minha surpresa, no meio daquele oceano dualista, eu vejo cores. Uma personificação do belo, encarnado à minha frente. Uma exceção a todas as regras que poderiam já ter se estabelecido em minha vida. Era tudo o que eu sempre quis. Seus olhos se voltaram a mim, intrigavam e instigavam sentimentos e sensações que me dominaram instantaneamente. Nada mais foi o mesmo depois daquela noite.

Ela veio a mim e me dominou, toda minha alma era escrava de seu toque e minha mente só precisava de sua ordem para ir a outras dimensões que nunca havia explorado. Foi um convite para ver o mundo de outra perspectiva, queria ascender às estrelas, as únicas que possuíam beleza comparadas a tamanha delicadeza. Fechamos todas as portas, que antes nos separavam e, agora, nos unem.
Diminui as luzes, deixei que alguns simples raios que entravam por frestas em nossas barreiras, nos iluminassem. Uma simples tentativa de esconder as cicatrizes que ainda latejavam por meu corpo e alma e por muito tempo foram usadas por outros, aproveitando-se de minhas dores e fraquezas.
Nesse momento o mundo podia acabar, um sopro de ficção que traria uma salvação para esta realidade cruel... Eu não me importaria. Não mudaria nada, agora que tenho você. Meu mundo gira e minha realidade mudou.

Minhas expectativas eram quase nulas, naquela festa, neste mundo...

So thank you for being that kind of girl
(06 a 09/11/2006)
***
Agradecimentos a Brandon Boyd & Incubus. Porque a inspiração é assumida. E os sentimentos, foram apropriados.

Tuesday, October 31, 2006

Personagens (ou O Espelho das Vaidades)

Quem me dera conseguir escrever um texto sobre amor. Tenho esse sonho desde muito jovem: conseguir expressar tudo aquilo que se passa dentro de mim em palavras, em gestos, em olhares e em toques. Eu queria interpretar os sentimentos e atuar em uma peça.
A minha personagem sofreria de dupla personalidade, um distúrbio bipolar ao extremo. Um procedimento cirúrgico seria a ligação entre uma aventura e outra: a sutura de meu coração e o fim da hemorragia da paixão. Clichês, mas sem dúvida, resumiriam muito bem a minha personagem que, mesmo com uma profundidade, ainda seria completamente bidimensional.
Prender-me-ia entre um Médico sádico e um Monstro apaixonado. Para muitos, um ultraje, para mim, um desafio.
Meus sentimentos, em constante guerra, tomariam conta do meu corpo inteiro, não deixando um fio sequer de esperança à razão, esquecida em cantos obscuros de uma mente bastante limitada. Declarada a guerra civil, nos encontramos em crise. Eterna! Imutável!
Personagem estruturada, agora faltam os detalhes. Um pouco de teimosia é necessário para poder suportar toda essa irracionalidade. Ok, dobre a dose! Quem sabe insegurança... esse é sempre um bom elemento para se trabalhar. Por tanto ouvir os sentimentos, viver nessa eterna corda bamba de emoções... sim, é importante que a insegurança o domine e faça dele uma vítima. O consuma até a última gota, faça-o sofrer, acabe com seu mundo. Logo depois tudo se resolverá, mas não sem uma lamentação e uma breve fuga.
Vamos encerrar com um poço de preguiça e pronto. Construí a personagem ideal. Com ela poderei representar todos aqueles sentimentos com os quais tive contato minha vida inteira. Finalmente as pessoas terão uma entrada direta para a minha vida. Saberão tudo o que se passa comigo e poderão facilmente apropriar-se de minhas ações e idéias. Com essa personagem, serei um livro aberto a todos...
Hesito por um instante...
Criei um monstro.
Esse sou eu...

(26/10/2006)

Thursday, August 10, 2006

Raios

Foto: Início (Fábio Gianesi - 25/02/2006)

O céu aberto é tocado pelos raios de um novo dia: uma dança erótica que apaga qualquer traço dos erros cometidos naquela longínqua jornada que precedeu este momento. Sou advertido a não olhar para esse fenômeno; meu coração ainda é fraco e não conseguiria agüentar todos os sentimentos evocados nessa cena.

Contudo a magia do acontecimento não me permite resistir... abaixo minha guarda e me entrego para o momento.

Absorvo todas as mensagens que são jogadas ao vento por bocas, cérebros e corações, todos perdidos a procura de suas almas. Sinto-me tocado por essas vidas que passam à minha frente e me enviam sinais dúbios. Meus sentimentos amadurecem a cada momento dentro desse mundo, novo e belo para meus olhos, perfeito em seus defeitos. Seus acontecimentos é a representação de profundos sonhos: enredos complexos que me envolvem cada vez mais, analisados por uma ótica sartriana, na qual revelo meu longo caminho para a plena existência.

E é dentro dessa cápsula que crio o meu refúgio que, contradizendo seu próprio nome, torna-se um embate com a realidade, latente em meus delírios, criando uma história distinta para a minha vida. Embarco nessa estrada sem sentir medo, sentimento abandonado e combatido com os raios da manhã. Quero enfrentar o frio, que conservou esse gelo à minha volta e me aprisionou em um mundo apático e monocromático, me impedindo de aproveitar a própria vida e seus pequenos prazeres.

Deixo para trás todos os desapontamentos da vida, focando meus aprendizados em outros tempos. Só então consigo decidir o meu destino... Não vou esperar pelo sol novamente, nesta noite escura encontro a minha luz e corro para encarar a minha vida.

Esse é o momento crucial!

É quando olho fundo dentro de ti e resolvo soltar meus raios. Quero vê-los envolver-te em alegria e paixão, esses sentimentos que despertaram em mim no amanhecer... e que se repetem dentro de seu olhar.

(11/07/2006)

Wednesday, June 07, 2006

Sintomas

Foto: Não olhe para trás... (Fábio Gianesi - 22/11/2005 - São Paulo)

Revoltas contra um inimigo virtual transformam nossos dias em séculos. Cada momento é a espreita de um ataque. Esse acontecimento pungente que nos deixa mais tenso e cria a expectativa de um desastre mundial todos os momentos do dia. A destruição de sonhos faz parte desse circo de horrores, criado sob o pretexto da paz e da prosperidade. Desculpas para ações que visam nada além da ganância do grupo encarregado de controlar um rebanho de assustados seres, que perderam a qualificação de humanidade.

A reação em cadeia demonstra que a massa é burra e aceita qualquer ação que possa soar como uma ameaça. Viver sobre pressão e medo é a forma encontrada e aceita pelas pessoas, que cada vez mais se trancam dentro de seus próprios castelos e fortes, entrando, sem perceber, em um estado de semi-autismo. A luta não é mais uma possibilidade para as pessoas, ela foi substituída pelo conformismo e pela aceitação dos fatos, que agora vigora como o código definitivo. A lei marcial é determinada por essa esquizofrenia coletiva, contribuindo ainda mais para a deficiência e a disfunção crônica de nossa sociedade.

Não encontramos mais razões para viver em paz e prosperidade. Não encontramos mais motivos para amar o outro. Temos todos os tipos de incentivos bélicos para criar a desordem e disseminar o ódio entre os povos. Atualmente, discordar é ofender, e o ataque é considerado a melhor forma de defender-se.

Presenciamos a maior das crises dos valores que os tempos já passaram. O homem atualmente assimila mensagens de ódio e preconceito da mesma forma como, um dia, já imperou a idéia de união e diálogo. A intransigência tornou-se um reflexo da pós-modernidade, disseminada a partir do delírio coletivo de sermos perseguidos por um inimigo oculto. Vingança é a aparente resposta a essa situação, mas acaba por integrar a infindável lista de sintomas dessa moléstia social da humanidade.

Sofro ao pensar que pode não haver saída para esse caos instaurado. Mas não me abato. A dor pode ser a principal motivação para as mudanças. E posso começar uma de meu próprio cárcere, a prisão que criei para mim mesmo e criar uma alternativa a me refugiar de tudo.
.
(07/06/2006)
...
(Agradecimentos a Thaís, Ju e Má, pela inspiração para a foto. Não há porque agradecer pelo texto. Gostaria de nunca tê-lo escrito!)

Thursday, May 25, 2006

Pequenos Prazeres

Momentos imperceptíveis,
quase invisíveis
O centro de nossas vidas à procura da felicidade instantânea.

Um gesto altruísta que gera um sorriso,
contraposto ao desgosto do isolamento.
A certeza de não estar só...
...mesmo que em seu próprio cárcere.

Sintomas de uma nova atitude,
ou somente o reflexo de um estado de espírito.
Oposições formadas dentro de paradigmas,
esquecidos em mentes perturbadas.


(28/02/2006)

Wednesday, April 26, 2006

Prosaico

Era um dia, como qualquer outro, em uma cidade como qualquer outra. Tudo o que acontecia era perfeitamente normal. As pessoas conviviam, os seres coexistiam e em algum lugar corações eram quebrados. Nada podia ser mais normal.

Duas pessoas se encontram em um bar e começam a beber. Seus corpos exalam suor e sinais. Todos prestavam atenção neles.

Algo poderia haver de diferente, caso eles não fossem completamente comuns. O modo como falavam, como se expressavam e como se olhavam era claro. Como qualquer um faria com uma pessoa com quem possui grande intimidade, como era o caso. Nada poderia ser mais prosaico... e todos ainda insistiam em olhar.

Aquela conversa tinha algo que atraía a atenção das pessoas em volta, apesar de não ser nada além de duas pessoas conhecidas trocando suas experiências de uma forma mais afetiva e carinhosa. E todos olhavam.

Tudo corria normalmente, apesar das reações diversas daqueles que os cercavam. Comentários eram feitos. As pessoas olhavam. Falavam baixo nos ouvidos daqueles que estavam próximos. E tudo o que acontecia era uma simples conversa.

Em um determinado momento, os dois começaram a notar que estavam sendo olhados, observados e analisados. Sentiram-se desconfortáveis. Mas continuaram com o papo, prosaico como era anteriormente, mas incomodados, sem dúvidas. A cena já escandalizava alguns, que começaram a se retirar do bar, indignados com o que estava acontecendo.

E tudo piorou quando se beijaram. Não foi uma cena de Hollywood, muito menos algo que remetesse a um filme pornô. Os lábios se encostaram rapidamente, como muitas mães fazem com seus filhos que, por sua vez, fazem em suas coleguinhas na escola.

As famílias se indignaram. As pessoas ao redor protestaram. Alguns praguejaram contra eles. E quase todos desaprovaram. O clima não estava para aquilo. Os dois decidiram deixar o bar, pagaram sua conta e se retiraram. Foi um alívio para todos. Aquela cena mais que prosaica foi encerrada pelo bem da moral e dos bons costumes.

Paulo e Marcelo nunca mais foram naquele bar.

(20/01/2006)
Porque alguns assuntos não devem nunca ser esquecidos.

Wednesday, March 29, 2006

Empático

Sinto meu coração apertar. Suas palavras são o suficiente para que eu possa entender. Seu desespero contagia ao ponto de me derrubar. Nesse momento, me torno indefeso perante tudo isso. Logo começo a me questionar, o necessário para me sentir isolado e, por fim, me perder.

Levanto-me e encaro meu próprio reflexo, as minhas desilusões ainda não tomam conta. Somente esperam o momento em que cederei. Decretado o fim, arrependo de ter me entregado dessa forma a tamanhas incertezas.

Errei por não conhecer o meu limite e não saber impor a minha verdade sobre as outras pessoas. Sou deixado para trás, com toda essa carga negativa... e choro a dor alheia.
(24/03/2006)

Tuesday, March 28, 2006

Introdução...

Esta é a nova versão do blog On My Own.
Os arquivos continuarão no antigo endereço e poderão ser postados novamente neste novo blog.

Aproveitem esse novo espaço, com novos recursos.

Pace Yourself!