Wednesday, June 07, 2006

Sintomas

Foto: Não olhe para trás... (Fábio Gianesi - 22/11/2005 - São Paulo)

Revoltas contra um inimigo virtual transformam nossos dias em séculos. Cada momento é a espreita de um ataque. Esse acontecimento pungente que nos deixa mais tenso e cria a expectativa de um desastre mundial todos os momentos do dia. A destruição de sonhos faz parte desse circo de horrores, criado sob o pretexto da paz e da prosperidade. Desculpas para ações que visam nada além da ganância do grupo encarregado de controlar um rebanho de assustados seres, que perderam a qualificação de humanidade.

A reação em cadeia demonstra que a massa é burra e aceita qualquer ação que possa soar como uma ameaça. Viver sobre pressão e medo é a forma encontrada e aceita pelas pessoas, que cada vez mais se trancam dentro de seus próprios castelos e fortes, entrando, sem perceber, em um estado de semi-autismo. A luta não é mais uma possibilidade para as pessoas, ela foi substituída pelo conformismo e pela aceitação dos fatos, que agora vigora como o código definitivo. A lei marcial é determinada por essa esquizofrenia coletiva, contribuindo ainda mais para a deficiência e a disfunção crônica de nossa sociedade.

Não encontramos mais razões para viver em paz e prosperidade. Não encontramos mais motivos para amar o outro. Temos todos os tipos de incentivos bélicos para criar a desordem e disseminar o ódio entre os povos. Atualmente, discordar é ofender, e o ataque é considerado a melhor forma de defender-se.

Presenciamos a maior das crises dos valores que os tempos já passaram. O homem atualmente assimila mensagens de ódio e preconceito da mesma forma como, um dia, já imperou a idéia de união e diálogo. A intransigência tornou-se um reflexo da pós-modernidade, disseminada a partir do delírio coletivo de sermos perseguidos por um inimigo oculto. Vingança é a aparente resposta a essa situação, mas acaba por integrar a infindável lista de sintomas dessa moléstia social da humanidade.

Sofro ao pensar que pode não haver saída para esse caos instaurado. Mas não me abato. A dor pode ser a principal motivação para as mudanças. E posso começar uma de meu próprio cárcere, a prisão que criei para mim mesmo e criar uma alternativa a me refugiar de tudo.
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(07/06/2006)
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(Agradecimentos a Thaís, Ju e Má, pela inspiração para a foto. Não há porque agradecer pelo texto. Gostaria de nunca tê-lo escrito!)