Wednesday, April 26, 2006

Prosaico

Era um dia, como qualquer outro, em uma cidade como qualquer outra. Tudo o que acontecia era perfeitamente normal. As pessoas conviviam, os seres coexistiam e em algum lugar corações eram quebrados. Nada podia ser mais normal.

Duas pessoas se encontram em um bar e começam a beber. Seus corpos exalam suor e sinais. Todos prestavam atenção neles.

Algo poderia haver de diferente, caso eles não fossem completamente comuns. O modo como falavam, como se expressavam e como se olhavam era claro. Como qualquer um faria com uma pessoa com quem possui grande intimidade, como era o caso. Nada poderia ser mais prosaico... e todos ainda insistiam em olhar.

Aquela conversa tinha algo que atraía a atenção das pessoas em volta, apesar de não ser nada além de duas pessoas conhecidas trocando suas experiências de uma forma mais afetiva e carinhosa. E todos olhavam.

Tudo corria normalmente, apesar das reações diversas daqueles que os cercavam. Comentários eram feitos. As pessoas olhavam. Falavam baixo nos ouvidos daqueles que estavam próximos. E tudo o que acontecia era uma simples conversa.

Em um determinado momento, os dois começaram a notar que estavam sendo olhados, observados e analisados. Sentiram-se desconfortáveis. Mas continuaram com o papo, prosaico como era anteriormente, mas incomodados, sem dúvidas. A cena já escandalizava alguns, que começaram a se retirar do bar, indignados com o que estava acontecendo.

E tudo piorou quando se beijaram. Não foi uma cena de Hollywood, muito menos algo que remetesse a um filme pornô. Os lábios se encostaram rapidamente, como muitas mães fazem com seus filhos que, por sua vez, fazem em suas coleguinhas na escola.

As famílias se indignaram. As pessoas ao redor protestaram. Alguns praguejaram contra eles. E quase todos desaprovaram. O clima não estava para aquilo. Os dois decidiram deixar o bar, pagaram sua conta e se retiraram. Foi um alívio para todos. Aquela cena mais que prosaica foi encerrada pelo bem da moral e dos bons costumes.

Paulo e Marcelo nunca mais foram naquele bar.

(20/01/2006)
Porque alguns assuntos não devem nunca ser esquecidos.